As coisas. As coisas que você
conquistou e as pessoas. Acho que principalmente as pessoas porque as coisas costumam
ficar.
Enfim. É assim: o tempo passa e você se acostuma com elas. Você
passa a agir como se elas fossem suas por direito. Como se.... Como se...
Como se você tivesse conquistado elas
e agora pronto. São suas pra sempre.
O ser humano tem muito disso de “pra
sempre”. Somos uns coitados.
Mas daí, você conquista as
pessoas e não pensa mais nelas. Não pensa nas coisas que as pessoas fazem por
você.
Quando ela prepara o café que
você vai beber. Quando ela corta o pão, coloca o que você gosta dentro. Quando
ela lembra exatamente do que você gosta.
O almoço feito. Todo dia. Ao
meio-dia, quente na mesa.
Você não pensa mais nisso porque
acha que sempre vai ser assim. Você esquece que algum dia conquistou isso.
Você passa a achar que é merecedor
dessas coisas. E não faz mais nada por elas.
Tipo um abraço no meio da tarde,
que ainda por cima atrapalha seu serviço e por isso você franze o rosto. Se
você soubesse, se soubesse não franzia o rosto nunca. Porque isso não é seu de
verdade. Entende? Nada disso.
Isso só é seu enquanto a pessoa
estiver ali. E ela só vai estar enquanto continuar sendo conquistada. Por isso
tanta gente desiste. Por isso o mundo vai ficando assim. Porque todo mundo acha
que merece tudo. Todo mundo segue como se a casa arrumada, cinco minutos antes
de se chegar do trabalho, o cartão feito à mão no aniversário, o cachorro, até
o cachorro levado para passear, como se tudo isso fosse obrigação do outro.
E não é.
Mas você se sente tão... seguro, tão
merecedor mesmo de ter sua vida facilitada.
E é assim que tudo acaba.
É assim que acaba o motivo,
entendeu. Quando você não faz mais por merecer, você deixa mesmo de merecer. Entendeu?
Parece complicado explicar. Mas é assim mesmo. Depois de conquistar, você deixa
de olhar para aquilo que conquistou. Você para de prestar atenção. Você para de
ver. Você para de ouvir. Você só toca em frente, alheio.
Até que, um dia, você chega em
casa não tem almoço pronto. A roupa não está mais dobrada dentro do armário. Não
há quem corte a carne do churrasco para você. Ninguém te abraça e você tem todo
tempo do mundo para fazer o que quiser.
A ironia é que, nesse dia, você
não quer mais nada. Você só quer um abraço mesmo.
E não tem.