terça-feira, 27 de dezembro de 2016

qUATRO SÉTIMOS - por Vinícius Linné

As coisas. As coisas que você conquistou e as pessoas. Acho que principalmente as pessoas porque as coisas costumam ficar.

Enfim. É assim:  o tempo passa e você se acostuma com elas. Você passa a agir como se elas fossem suas por direito. Como se.... Como se...

Como se você tivesse conquistado elas e agora pronto. São suas pra sempre.
O ser humano tem muito disso de “pra sempre”. Somos uns coitados.

Mas daí, você conquista as pessoas e não pensa mais nelas. Não pensa nas coisas que as pessoas fazem por você.

Quando ela prepara o café que você vai beber. Quando ela corta o pão, coloca o que você gosta dentro. Quando ela lembra exatamente do que você gosta.

O almoço feito. Todo dia. Ao meio-dia, quente na mesa.

Você não pensa mais nisso porque acha que sempre vai ser assim. Você esquece que algum dia conquistou isso.

Você passa a achar que é merecedor dessas coisas. E não faz mais nada por elas.

Tipo um abraço no meio da tarde, que ainda por cima atrapalha seu serviço e por isso você franze o rosto. Se você soubesse, se soubesse não franzia o rosto nunca. Porque isso não é seu de verdade. Entende? Nada disso.

Isso só é seu enquanto a pessoa estiver ali. E ela só vai estar enquanto continuar sendo conquistada. Por isso tanta gente desiste. Por isso o mundo vai ficando assim. Porque todo mundo acha que merece tudo. Todo mundo segue como se a casa arrumada, cinco minutos antes de se chegar do trabalho, o cartão feito à mão no aniversário, o cachorro, até o cachorro levado para passear, como se tudo isso fosse obrigação do outro.

E não é.

Mas você se sente tão... seguro, tão merecedor mesmo de ter sua vida facilitada.

E é assim que tudo acaba.

É assim que acaba o motivo, entendeu. Quando você não faz mais por merecer, você deixa mesmo de merecer. Entendeu? Parece complicado explicar. Mas é assim mesmo. Depois de conquistar, você deixa de olhar para aquilo que conquistou. Você para de prestar atenção. Você para de ver. Você para de ouvir. Você só toca em frente, alheio.

Até que, um dia, você chega em casa não tem almoço pronto. A roupa não está mais dobrada dentro do armário. Não há quem corte a carne do churrasco para você. Ninguém te abraça e você tem todo tempo do mundo para fazer o que quiser.

A ironia é que, nesse dia, você não quer mais nada. Você só quer um abraço mesmo.

E não tem.



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