Agradeço aos cabelos brancos que enfeitam a cabeça de minha
mãe e me fazem comovida, às pessoas que, de uma forma ou de outra, perdoam meu
silêncio, e são generosas, dividindo suas memórias cheias de afeto. Quero um
instante de gratidão.
Obrigada aos casais anônimos que trocam carinho escondido
nos bares da cidade e me fazem acreditar nas cores, ao poema recebido, em que
uma mulher bonita vive, porque eu não sou bonita, ao perdão pelos meus passos
em ré, minhas tentativas em Sol maior, aos que com carinho humano e quente, tão
raro, secam minhas lágrimas não óbvias, às mãos que oferecem calor e café. Aos meus
amigos que entendem que “tempo é amor”,
a todos os brindes, os prantos e quedas, às novenas de minha mãe, às desmedidas
de um poema livre, aos escritos do Saramago, ao atendente da padaria que sabe do
meu café puro, ao pé de mandacaru mais velho da roça, que insiste em ser verde,
mesmo no roçado, a tudo que é árido e me comove, à dureza do açude seco, à
contemplação gratuita de tudo que, em seu detalhe, é Deus. Também às memórias
de amor que me enfraquecem, a todos que
de uma forma bruta, mansa, revoltada ou terna ainda acreditam numa mudança de
rumo, num prumo mais humano na vida. Às
pessoas com cadência de afago, me perdoando o olhar, silenciando meu desespero,
aos cinemas, aos teatros, aos estranhos que me apontam as estações de metrô, à
verborragia artística que me pega rente à carne, ao farol que fechou porque um
poeta de rua cantou flores e vendeu sua fé, aos meus espinhos no peito, fazendo
lembrar que ainda tenho um, às minhas hipóteses de absurdo, às despedidas sem
palavras, aos que se supondo fortes me seguram nos braços, aos que, sem razão nenhuma,
me sorriem e acreditam no que eu não disse, aos que me apresentaram uma cor
nova pra usar, que me falam de cinema, sem respeitar os caixões dentro do meu
quarto, obrigada.
Há espaço, tempo e sobre todos: amor. Em pranto, em ira, em
lago, em borboleta.
Eu AGRADEÇO.