Alguém, por favor, coloque de uma vez uma
navalha no meu pescoço e sirva-se, ou use uma faca que tenha um cabo vermelho,
ultimamente gosto de vermelho e laranja. Eu preciso tanto morrer. Nua com
sangue entre os dentes, salivando ainda seu gosto. Estou lúcida como o diabo
estaria, porque deus está bêbado e vendendo o amor nos bares e igrejas.
A morte será doce e colorida e
não faltará verbo de ligação nas lembranças esquecidas depois de três chuvas. O
anúncio de um sol entre os dedos, de um rasgo no vazio de sempre, na medida de
tudo que pode transbordar eu não sei quanto de mim ainda pode morrer.
O afeto escorre de um olhar
perdido e doce, porque a vida está crua, nua, mas a morte não vem, a morte
seduz as sombras que eu escondo. Traga a navalha, eu quero morrer nua, olhando
para você. No fundo a gente se perde.
Já não há sangue, nem corpo, os
verbos dormem, os olhos não fecham, a paz eterna é prenúncio de uma guerra.
Mate, mastigue e jogue no seu lixo essa minha sintaxe imprecisa de quem perdeu.
Meus verbos entre seus dentes podem alegrar o finalzinho de luz que me resta, a
vontade de morrer esfria minhas mãos e descompassa meu ritmo.
Antes da navalha, gostaria que
minhas palavras, ralas e saudosas, virassem lágrimas, eu também preciso de
lágrimas teimosas escorrendo no meu batom vermelho, borrando essa maquiagem que nem é minha. Quero tanto virar
uma nuvem.
Há
tanta vaidade vã em desejar a morte, como se uma faca, um punhal, uma navalha, uma
corda, afirmassem uma vontade, como se num repente, por pura arrogância minha,
eu quisesse as rédeas desse caos todo que é a minha vida. Que diabos é a minha
vida? A morte não é um espetáculo, é só uma ponte. Eu não sou ninguém, eu já
morri. Não haverá espetáculo nenhum. Desçam as cortinas. Eu morri, sem faca,
lençol branco ou corpo nu. Foi de morte
comum. Essa de todo dia.
...demais...muito bom...a sua escrita fica cada vez melhor...me delicio todas as vezes que eu leio seus textos!!! Vç é muito talentosa!!!
ResponderExcluirA inevitável morte diária, secando as réstias de tudo que ousamos sonhar.
ResponderExcluirQuerida Dilma, tive que ler QUATRO vezes sua crônica para conseguir algum tipo comum de digestão.
Parabéns pelo texto.
Bjs, S.
Eita...vixi, arrê. Eita?
ResponderExcluirPobre de quem morre assim.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAh Dilma... os teus textos e verbos. Lebrei-me dos escritos do colegial... Revelação rsrs o q será q ela quis dizer... leio mais uma vez, interpreto de acordo com a minha bagagem, mas sei que a autora vai muito além. Te admiro muitoooo
ResponderExcluirUltimamente ando meio afastada desse tipo de leitura, mas faz falta, sinto. Ultimamente.
Vilma