Quatro deles mataram Maria Adélia. E o fizeram porque Deus mandou. Não, não há mais gente boa no mundo. Gente que desobedece a Deus. Não há. Em meio à sarça flamejante a voz Dele veio, retumbante: “Que Maria Adélia seja para vós como o corpo e o sangue de Cristo. Tomai todos e comei”.
Tomaram e comeram. A Maria Adélia.
Os frangalhos do vestido amarelo, os ossos, os músculos mais duros, os nervos, os olhos, os pulmões, as tripas e os cabelos crespos e tingidos de amarelo estão em um monte no canto da garagem. Discutem os quatro sobre o que fazer com aquilo.
Um deles é pragmático: Precisamos comer tudo. Até o último cabelo. Vocês ouviram Deus...
Outro é gramático: Mas o Senhor não disse se tínhamos que comer tudo... Quando falou em corpo, eu entendi que era só a carne.
Os outros dois arrotavam à larga, boca lambuzada de vermelho, sem conseguir engolir mais um dedinho sequer.
Tenho medo dos gramáticos.
ResponderExcluirAinda prefiro os pragmáticos.
Seu texto fez com que milhares das minhas sinapses buscassem relações com o exterior da crônica.
Cada dia mais me convenço que meus textos descansam bem ao lado dos seus.
Abraço, Vini.
Foda!
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