É carnaval e eu fiz tantas curvas que nenhum samba me achou.
Fui para onde o vento pinta tudo de poeira vermelha, transformando pessoas em anjos barrocos.
Fui para onde as borboletas são ninfas azuis que seduzem, provocam e se escondem na hora dos retratos. Borboletas que acreditam no que ainda lhes disseram os índios: capturar suas imagens seria capturar suas almas.
Fui para onde as Iaras pedem licença à Iansã e penteiam os cabelos nas quedas d’água das pedreiras.
Fui para onde existem onças nos olhos dos gatos. E gatos com olhos de mato.
Fui para onde a mata faz fumaça e canta coisas de arrepiar.
Fui para onde as caiporas caçam e os cães ninam os filhotes alheios.
Fui para onde os facões crescem em árvore e avisam no caminho que há guerra para quem vier.
Sim, fui para onde as pessoas se matam e abandonam casas ao fugir.
Fui para onde o chão é mais duro e puxa mais forte quem dele se aproximar.
Fui para onde as pessoas se acostumam (ou não) com a prisão.
Fui para onde as Igrejas rezam sozinhas, com vozes de quem já morreu e repetem os encantos que as cercam sem cessar.
Fui para onde o rio é mistério e aparta línguas, costumes, cores e olhares.
Fui para onde brotam lodos e peixes dentro das máquinas de fotografar.
Fui para onde a tentação de encher os bolsos de pedras é grande, lá Virgínia jamais poderia estar.
Fui para as quedas que me acompanharam ao voltar. O barulho daqui é agora o mesmo de lá. A chuva é água do peral e da queda daquele que tudo engole.
É carnaval e eu fui para dentro de mim.
Vinícius, estou levando este texto para postar na Academia Virtual de Escritores Clandestinos (no facebook). Um abraço
ResponderExcluirObrigado pela honra.
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