quinta-feira, 5 de junho de 2014

gEORGE tOOKER, - por Vinícius Linné

Ele lê imagens procurando que alguma delas conte a sua história. Não há. Não há nenhuma com um homem tão só, nenhuma com letras que flutuam e se fixam na pele. Não há uma imagem de luar e sonho que seja, ao mesmo tempo, ocre, vermelha, preta e azul.

Não há imagem com cheiro de pó, mofo, café e perfume. Se houvesse, contaria parte da história dele. Faltaria ainda o cheiro de vinho, sêmen e morangos maduros (ou mofados, se preferirem a parte dele que lê Caio Fernando Abreu).

Não há nenhuma imagem com música constante e calma. Nenhuma imagem com paixão de arrebatar e vazios de traça por entre as tintas. Nenhuma com luz de sol à noite. Nenhuma com as promessas que ele tatuou na pele: The impossible is possible tonight.

Não há quadro, por surrealista que seja, que consiga tocar-lhe de leve a história, as luzes e sombras que ele esconde no olhar, as sutilezas e descaramentos que ele amarra nas coxas, as mensagens codificadas nas mãos e nas linhas dos pés. Não há. Ele não encontra tela que conte, mesmo sussurrando, a história da sua alma. Por isso ele a escreve. Às vezes ele a escreve.

2 comentários:

  1. O único comentário que me vem à cabeça:

    "Eu pinto-me porque estou muitas vezes sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor" - Frida Kahlo

    Assim ele escreve. De vez em sempre.

    Beijo,

    Val

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  2. "as vezes ele a escreve"... muito às vezes, também escrevo. Tempo mudo. Hediondo. Ouço gritos de algumas almas que me sorriem...


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