terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

a FORÇA DOCE DE AÇUCENA - por Adilma Secundo Alencar.

Eu não sei dizer direito. E se eu fizesse de nossa natureza verbo, o que eu diria desse meu olhar tonto de desejo? Qual seria o nome dessa sua  violência açucarada de canela e cereja? 
Essa explosão em força.
Você tomou com a força de seus olhos e a ousadia de sua boca todos os meus advérbios de intensidade. E de tanto e tanto desejar sua língua, esse verão de 40 graus fez açude nos nossos lençóis amassados.
Olhando sua pele sob a luz da lua, fez sentido desde a pedra à escritura em ofício o registro de seus encantos de mulher. No visgo do desejo, na sagração da carne em oferenda ao mar entre suas pernas, se deleita no arrebentar das ondas, enquanto cai por terra o pudor imoral de quem desconhece rios e raios desse fevereiro agudo.
Rosas e letras, riscos e rasgos. De sangue e de letras surgem cicatrizes e flores, e quando você me dá sua mão, eu seguro meus verbos mais bonitos. Os meus signos nus descansando nos seus braços são seus. São suas também minhas horas de dengo, minhas receitas de bolo, e as músicas do Marcelo Camelo.
Eu queria tecer uma colcha de retalhos com suas cores, fazer uma colagem com seus cabelos curtos, seu batom rosa cintilante, seu vestido azul, seus cílios descansando no meu travesseiro, sua mão pequena tomando minha nuca, suas cerejas, seu joguinho de jujubas no celular (que certamente tem outro nome), seu playlist, bolo de limão, caipirinha de maracujá, Clarice, sol de três da tarde, cio, rede, grama, sessão das seis, salto, rímel, peitos queixo, passos, pele, pranto, letras, o livro das flores, as músicas do Caetano, a doçura de Caeiro.
Mas eu não sei tecer essa literatura de plasma, de folhas, de algas que tanto você gosta, eu só sei olhar, com um jeito besta e meu, eu só sei o susto de ver você arrebentando tudo como o mar em dia de ressaca.


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