Ana resolveu não sair.
Um luto sem cor cobria seu corpo e seus olhos vivos já não diziam.Depois da tempestade daquela semana,perdeu o coração numa correnteza,numa correnteza urbana, dessas que jogam os móveis nas praças, e quanta exposição.Suas roupas íntimas boiando,seus anéis, um estômago exposto.
Ana chorava, seu colo inundado de flores brancas emanava um doce melado, cheiro visguento de amor agonizando.
Ana é ainda mais bonita do que seu corpo diz, ela faz amor como quem dança.
Mas Ana resolveu não sair.
Não viu passar os olhos desejosos de tantos homens,nem sorriu quando um vermelho morno tomou o horizonte e aqueceu sua cisma.Ela fechou a porta de sua casa,se sentou, se deixou na agonia de não enxergar, suas mãos pequenas já não queriam abraçar vontade nenhuma.
Uma mulher em correntezas,só, entre talheres sujos,roupas usadas e um abandono de criança.Soluços, as xícaras, o rosto vermelho escorrendo rímel,as havaianas azuis alfinetando sua saudade, e um anel decepando seu dedo,amputando seus abraços, anulando sua primavera,seu verão que é tempo de escândalo foi anulado por pedras no canto dos olhos.
Talvez Ana volte a escandalizar um coração,talvez Ana escreva uma carta de amor, quem sabe talvez nasça uma flor rebelde no seu peito,mas por hora,Ana resolveu não sair.
Ana resolveu não sair.
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