Um bebê é um mistério. Um parto é um susto. A ciência e a religião não diminuem o meu espanto do que é um parto, bebês não deveriam nunca,nunca mesmo morrer.Eu não gosto de assistir às notícias da televisão,coisas de morte, violência e não é por motivo político, posicionamento intelectual, não, é porque eu me comovo indecentemente. Mas quando no café da padaria, ou mesmo entre um fazer doméstico e uma leitura besta olho para a TV, eu me surpreendo com a minha falta de tato para a dor. Um bebê é um pedaço de nuvem,aqueles olhinhos reconhecendo o mundo com um espanto que eu teria se não tivesse vergonha de mostrar meu medo, meu desamparo. A imensidão de uma casa para os olhos de um bebê deve doer,deve sim, sair ou chegar. Por aqui tudo está pronto para enquadrá-lo, terá uma língua e logo depois de uns poucos anos uma gramática lhe dirá de uma estrutura óssea que move essa água toda dita língua.
Eu não saberia o que fazer com um bebê nas mãos, eu tremeria como uma criança no primeiro dia de aula, como no meu primeiro dia de aula em que eu me senti triste, eu me sentiria Deus, "um Deus de saia" com uma criança nas mãos, por isso meu espanto e encanto por todas as mulheres que parem filhos para o mundo, porque o que é um filho? Eu penso,sem experiência na maternidade, que se leva a vida inteira para saber e não se sabe ainda.
Eu não saberia direito ver um filho crescer sem chorar, eu não presto para essas emoções, eu sou muito comovida de absurdos, eu me sustentaria em todas as coisas bonitas do mundo: terra, galho,flores,vento,água e lhe ensinaria que eu não sei das coisas e pediria perdão também , pediria perdão pela violência desse mundo feio que uma mãe mora querendo comer uma via láctea, querendo beber nuvens de algodão doce, eu sei que o primeiro não para um filho deve doer muito, doer na mãe, doer no útero morada de um coração para sempre. Um cordão umbilical é uma metáfora.
Bebês são milagres de carne e fragilidade saindo de dentro de seres também milagrosos e místicos,porque embrutecemos tanto a ponto de matar?
Eu não quero a notícia da TV, o que eu diria para um filho que soubesse que um recém nascido foi morto.
Eu não presto para escrever sobre essas coisas, porque é assombroso saber que os olhos de um bebê foram cerrados por uma maldade que não tem nome nem porquê.