Por que você é assim, hein, tão afeito aos extremos tão afoito em sofrer? Por que você precisa descer até o último degrau antes de descobrir que a piscina não dá pé? Por que, se no terceiro a água já havia engolido seus cabelos? Eu mesmo não compreendo. Não compreendo a ânsia de se entregar. Se fosse ao amor, talvez eu compreendesse. Mas ao sofrer? Não, ao sofrer eu não compreendo. E mesmo assim você se entrega. Se entrega como se seu corpo fosse programado para isso. Como se a falta de ar, a pressão no peito, a morte próxima, fizessem parte de você. Fazem?
Outro dia eu li que nossas células se viciam em certas sensações. Seria isso? O hormônio do sofrimento é sua vibe, sua viagem, sua fissura, seu vício?
Você me cala e pede licença. Diz que não me deve explicações. Grita, xinga, esmurra a porta antes de abrir e bate ao fechar. Anoitece. Você não volta. Anda pelas ruas como que submerso na piscina, sufocando, bebendo o ar em goles desesperados. Sofre. Na rua você sofre. E é, então, feliz.
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