quinta-feira, 24 de abril de 2014

mUDAR - por Vinícius Linné

Diante de toda tela em branco a vontade é a de não escrever. Diante de toda perspectiva de mudança a vontade é a de permanecer. É cômodo não fazer nascer o que ainda não existe. É cômodo deixar as palavras no peito, os móveis na casa, os livros na estante, os relacionamentos no mesmo status, os esforços no mesmo emprego. É cômodo ficar.

Mudanças assustam com seus riscos: perder coisas no caminho, riscar móveis, rasgar livros, arranhar sentimentos, perder estabilidades. Mas, mudanças também tentam com seus encantos: encontrar novos caminhos, comprar outros móveis, reencontrar antigos livros, fortalecer sentimentos, ganhar reconhecimento pelo que se faz...

É como se eu precisasse sempre escolher. Mudar ou não? Arriscar ou não? Tenho aprendido que Sim é sempre a melhor resposta para a vida. Não importa o que virá, nada pode ser pior do que nada vir, do que a tela continuar sempre em branco, vazia, angustiante. Tenho me lembrado, cada vez mais, de um menino que queria colecionar vivências. Um menino ávido de mudança que passou tempo demais perdido.

Um menino que descobre agora, como homem, o orgulho de ter sua casa, seus móveis, sua mulher, sua vida, seu trabalho, seu controle e sua escrita. Um menino que descobre, abismado, que colecionar vivências e escrever por telas em branco é, simplesmente, dizer sim e mudar quantas vezes a vida permitir.

2 comentários:

  1. Por mais que os passos queiram a paralisia dos lugares/vida, a alma da gente sempre vai querer voar e mudar. Belo texto, meu amigo.

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  2. Que mudanças lindas aguardem esse menino! Que colecione bolinhas de gude de alegrias e figurinhas de contentamento.Mas quando cair ( pois quando se brinca de desafiar o vento a gente pode cair) o menino deixe o homem Vinicius tratar e curar da ferida, o levante de novo e sorrindo diga ao menino: -Corre,moleque!.

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