terça-feira, 8 de abril de 2014

gENTE - por Adilma Secundo Alencar.


No meio da multidão tem gente vendo coisas abandonadas: um pedaço de céu, um pedaço de bolo de milho, um trecho de um poema antigo resgatado num papel amarelo, um envelope, tem gente selando cartas e aprendendo o movimento das flores. 
O trabalho repete o roteiro e o café convida o corpo para um livro vermelho, pelas páginas de romã de lábios em sim, pelas vontades abrindo botões e mistérios, pelos largos caminhos da comunhão das coisas sofisticadamente simples, por ser irresponsavelmente doce, os olhos dela crescem nas cores quentes e prendem o afago mais íntimo, a força mais extrema como um rio turvo em correnteza iluminando uma manhã no mato ermo de gente e de bicho.

Alguns homens apartam bezerros no interior de uma cidade qualquer e desejam água, fumam fumo de rolo e cismam na seca e no céu, outros nas salas velhas e sábias e frias das universidades tentam entender a velocidade dos beija-flores. Tem gente rindo das notícias e fazendo poemas modernos nas portas de banheiros público.
A todo momento tem gente pulsando, pulsando grampo, faca, folha, rima, ramo verde, filho,  riscos, desenhos, discos, código de célula, de cédula. 
A todo momento tem gente.

Um comentário:

o Febre CRÔNICA agradece sua leitura e comentário.