segunda-feira, 11 de março de 2013

bURACOS - por Vinícius Linné

Solidão abre buracos.

Em Jonas um buraco na cabeça. Um furo pequeno na frente, entre os olhos, mas um rombo gigante atrás, por onde lhe saíram os miolos que sujaram de vermelho os azulejos da cozinha.

Em Martha um buraco no estômago. Uma cratera enorme que precisa diariamente ser preenchida com doce de leite, calda de pêssego, bombas de chocolate e dúzias de caramelos.

Em Cristina um buraco entre as pernas. Uma gruta que anseia se sentir completa para que Cristina se sinta também. Como se, dando o que eles querem, ela ganhasse o que quer. Não ganha. Ganha fluídos,  mas não o que precisa.

Em Mathias um buraco no coração. Uma marca pequena, feito aquela que deixam os vermes na casca das frutas. Um buraquinho que faz diferença entre se sentir ou não vivo. E ele só se sente quando o buraco está lá.

Em mim a solidão abre buracos no papel. Cada pingo, cada ponto forte, cada acento decisivo é mais um furo que aparece na folha. Como se escrever, abrir esses furos, preenchesse os que estão dentro de mim. Como se, ao levantar às três da manhã e me trancar na garagem com um caderno nas mãos, eu pudesse me traçar um destino mais completo e evitar que os furos de Jonas, Martha, Cristina e Mathias se abram também em mim..

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