terça-feira, 19 de março de 2013

iMPORTA - por Adilma Alencar.


Abre a janela e coloca a cortina mais bonita, aumenta o som logo de manhãzinha, naquele blues, sussurra uma bobagem pueril para me tirar do sono, compra meias vermelhas e papel A4 ,me escreve uns versos para enfeitar esses dias bonitos.
Faz piada dos meus motivos e ri de meus medos mais sérios. Em silêncio, num canto da sala, costura a bainha de um jeans velho, corta as unhas dos pés, ler o segundo caderno e depois faz origamis para me informar do mundo, foi assim que as figuras do papa, do Hugo Chávez, da Yoani Chances, pousaram na minha mesa.
Bolinhos de chuva, chás, revistas de história e de cinema, Miles Davis e pedaços de arco-íris vão me encantando, quebrando o gelo da distância, cifrando um laço azul.
Uma tarde fria vai se abrindo dentro da sala e como numa onda quebrando, o seu corpo avança me  ensinando tango, fogo, meu corpo mar no seu corpo calmo e bruto, uma fome sem etiqueta nem linguagem .
É manto ou mato, organdi ou chita, é coberta ou chão, o que vai construindo o nó é só o suor junto, o soar uníssono, o não apartado dos signos da carne, o que vai tingindo a tarde é só cria nossa, é só um entendimento maior que o corpo em graça aceitou.
Não importa o prazo, importa a paz desse olhar de hoje.
Importa esse olhar que já dói, essa sabedoria de eu me deixar morrer entre essas flores simples.

Um comentário:

  1. Importa é o texto e sua eternidade, livre de preços, pesos e prazos.

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