A menina desce a rua decidida a
lançar o coração como granada, no terreno minado do coração de seu bem só nasce
capim-santo, erva-doce. Mas ela insiste em atear fogo, não sabe ainda que a
menina dos seus olhos é de água doce, que já nasceu com um beija-flor no peito.
Vai fervendo de ira, ciúme e tesão,vai decidida a terminar na contramão do
desejo, na ponte dos caminhos óbvios.Ela parte para o encontro com um coração em
larvas e chorando uma dor emprestada do mundo. Suas mãos encontram nuvens,
mato, manto e renda. Elas costuram entendimento de bicho, silêncio de semente.
O dia é só um lugar de estar. A chuva é cenário. O céu é um tesão
vermelho reverberando nos corpos nus,batizados na vontade de laço no lençol com
cheiro de flor.
Elas não falam protocolos, não predestinam o dia seguinte. O terreno
baldio é jardim e a cidade é um canto de ser feliz, na guerra da vaidade, na raiva.
Comungando mel, ela volta com as mãos vazias de granada, com o peito de algodão-doce.
E um sorriso que escorrega nos cenários frios da cidade de São Paulo. Reparando
bem, são meninas aprendendo beija-flor, comendo manhãs, anunciando rosas e
desejos violetas.
São só duas meninas.