Ele não tinha aquela pressa de homem urbano, amava sua esposa com um
amor doce e calmo que era como um cheiro de alecrim. Chegando cedo do trabalho
de marceneiro, ele lavava a louça, comprava uma cerveja e pensava no vestido de
Rosa, era apaixonado por aquele balançar de panos e vontades. O sol se despedia,
ora frio, ora quente. Ele, sereno, era um homem rente ao abismo da calma, acendia
um cigarro, tirava a camisa e esperava. Tantos desejos esperavam ao seu lado.
Lá fora, depois de sua calçada, o mundo seguia tumultuado, mais
motoqueiro acidentado na Avenida Rebouças, mais um atendimento do SAMU, mais
uma enfermeira iniciante nervosa diante do sangue, mais um homem com o coração
sangrando de amor e abandono, mais uma mulher gozava seu abandono num corpo que
não amava, mais um estudante se apaixonava pela professora de história, mais um
atendimento tardio e um homem morria, mais um exame positivo e a menina vingava
depois de tantas velas à Fátima. Nas igrejas, lágrimas de alegria e de dor, de culpa,
medo e angústia. Nos motéis, toalhas, calcinhas e promessas cheirando à verde
musgo.
Mas
dentro do peito dele, dentro de sua casa, só cabia Rosa
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