Dos livros que você lê, eu sou as palavras que não têm. Eu sou o que está por trás dos pontos, dos parágrafos, dos conceitos e dos homens muito velhos, de barbas longas. Eu sou as palavras que você evita, as que estão repetidas e repetidas, sempre e sempre, nos romances cor de rosa, lá, nas bancas de jornais.
Eu sou as palavras de que escorrem mel nos poemas ruins. Eu, que fico fora dos jornais, dos receituários, dos diagnósticos, dos males e das curas. Eu, que fico de fora das cifras e dos horóscopos, das teorias e dos emails, das imagens e dos textos sacros. Eu, que não sou escrito em braile, nem pronunciado dentro dos bares. Eu, que não exorcizo nem conjuro, não excito nem relaxo, não dou consolo nem doo demais.
Eu, e só eu, saberia te dizer do jeito certo o que você precisa ouvir. Eu, e só eu, saberia acariciar teus olhos se você me lesse. Mas você não lê. Não lê porque pressente em mim uma armadilha. Não lê e me evita na concretude de seus livros velhos, nos estudos e nos artigos, nas resenhas e nas senhas que, eu sei, ainda têm meu nome.
E será sempre assim: enquanto você não disser minhas palavras, elas não existirão. Enquanto você evitar o abstrato da minha pele e a concretude do que sente, estará salva.
Mas salva de quê?
Da vida? Meu Deus, da vida?
Mas salva de quê?
Da vida? Meu Deus, da vida?
Lindo texto, Vinícius... Que tenra e doce verdade. Este post se dito sairia de lábios carnudos e trêmulos ( de tanta verdade). E a verdade assusta só não mais que a própria vida. Fica bem, amigo.
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