segunda-feira, 4 de novembro de 2013

vAZIO - por Vinícius Linné


Coração vazio não pulsa. Bate. Bate no peito, dá socos, pontapés, machuca pela agudeza da sua própria solidão.

Coração vazio não pulsa. Não distribui o sangue, não te deixa vivo por dentro, não te faz querer escrever, pensar, cantar, viver.

Coração vazio não pulsa. Faz eco. Eco das nossas próprias sensações vazias, da nossa falta de sentido (e falta de sentir), da nossa impossibilidade de compreender o para quê da vida.

Se não vim antes aqui foi por falta de ter alguma coisa dentro do coração. Ainda não tenho, mas voltei porque é primavera e qualquer coisa no ar nos explica. Qualquer coisa nos justifica. Voltei porque compreendi que o coração se tem sempre vazio, não importa quem esteja do nosso lado, não importa quem povoe nossos pensamentos, não importa por quem nós fechemos os olhos. Ele continua sempre vazio.

Continua porque ele só poderia se preencher de si mesmo. E ninguém é tão tolo assim. Por isso eu vim. Vim para dizer que ainda há um talvez em mim. Ainda há uma possibilidade, mesmo vazia. Não de ser feliz, não de ser completo, não de ser alguém, não de ser teu. Isso seria tão tolo quanto querer ocupar um coração que, por essência, morrerá vazio.

Vim porque há uma possibilidade de me deitar na tua cama. Uma possibilidade de tirar minha roupa e desfazer meu corpo no teu. Vim agora porque percebi que não há mais do que isso. Não há futuro, não há final feliz, não há sim no altar. Há isso e despedidas. Há isso e reencontros. Há isso e motivos para voltar. Há isso e aquele primeiro abraço, o primeiro contato, a primeira fagulha a queimar tua pele onde meu beijo a marcou.

É por mim que tu ainda fechas os olhos. É por ti que eu ainda fico acordado à noite.

E, mesmo assim, são de vazios imensos nossos corações. E para sempre serão. Por isso eu vim. Porque perdi o medo de perder aquilo que não se tem.

2 comentários:

  1. Eta,Linné. Como tua escrita tem uma dor bonita, uma agudeza sã que é de inquietar os corações. Um xero.

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  2. É ridículo, eu sei, mas a consciência do ridículo não diminui o que sinto, portanto profano: Tenho inveja do "perdi o medo de perder aquilo que não se tem." Esse medo, entre tantos outros, uns perdidos outros não, esse em especifico não consigo perder. Abraços Vinicius.

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