Ela queria lhe roubar um sorriso e não conseguia. Também, vendia-se fácil ao primeiro macho de dois cruzados. Não bastando, irradiava perfume falso e batom vermelho, era quase tóxica. Para fazer-lhe sorrir, bastaria um comentário inteligente ou um sorriso próprio. Isso ela não tinha. Tentou no lugar a gargalhada falsa, a bebida rápida e o short curto. Não deu.
Ela queria lhe roubar um beijo e não conseguia. Normal, afiava os dentes e os saltos dos sapatos. Preocupava-se mais com a cerveja em lata do que com o coração alheio. Invejou, inventou e desmontou tudo que ele podia ter em volta. Deixou-o só no mundo dela. Nem assim ele a quis.
Ela queria lhe roubar o nome e não conseguia. Difamou, cortou em sílabas e deu às cadelas suas para que lhe comessem. E quanto mais arrastava o nome dele à pedra sabão da rua, mais deixava cair o próprio, perdendo-o nos barrancos infestados de barro e esgoto sujo. No fim, ela própria já se chamava “merda”. E ele, “espelho de aço polido”.
Ela queria lhe roubar a luz e não conseguia. Apagou holofotes, fez tenda de voal para cobrir-lhe o sol, soprou as velas de cada igreja, como se pudesse deixá-lo no amaldiçoado escuro em que ela vivia. Não pôde. Cintilavam-lhe estrelas apesar de tudo.
Então nada dele ela poderia roubar? Nada poderia pegar com as mãos sujas, com as unhas encardidas de sangue? Nada dele poderia colocar na boca podre e sentir desfazer na língua purulenta? Já perdia a esperança...
Foi então que veio a recompensa. Ganhou dele algumas coisas, atiradas como ossos: escárnio, nojo, indignação e total repúdio. Ela recolheu tudo como se fosse manjar doce, embora sujo de terra preta. Sorveu, bebeu, lambeu e não deixou uma gota para trás, engolidora de viscos que era. Aproveitou-se de cada sentimentozinho. Tinha sido, enfim, notada. Roubara-lhe um olhar, de desprezo, mas ainda assim era um olhar.
Linné, seus escritos são lindos !!!
ResponderExcluirEsmolas...
ResponderExcluirQuem nunca bebeu/bebe delas?
Seus textos melhoram a cada dia.
Leio. Absorvo. Penso. Sorrio.
Bjs, amigo.