Primeiro esqueceu o nome em cima da mesa. Depois, como se o visse, apanhou-o, mas já nem lembrava para que servia, de modo que botou no bolso e ali o deixou. Ao lavar a calça, a mãe não procurou nada nos bolsos, o nome ali ficou. Com a água e as giradas de torvelinho, o nome se desfez, perdido para sempre.
Já sem nome, nem falta de nome, ele continuou a perder as coisas, distraidamente. A sombra, deixou, numa tarde de muito sol, sobre o chão quente da praça. Tirou-a um pouco, como que para aliviar o cansaço de sempre carregá-la, e esqueceu-a lá. No outro dia, quando deu-se por conta e foi buscá-la, já não havia nem sombra da sombra.
O amor, que apertava o peito, ele tirou para poder respirar melhor. Era um amor tão bonito. Meu Deus, tão bonito. Mas não servia para muito. Apesar da beleza era doído. Doído como um sapato que um dia servira bem, mas agora apertava os pés. Ele até pensou em doar o amor a alguém. Era uma pena simplesmente desfazer-se dele. Mesmo apertado e machucando, continuava tão lindo o amor. Colocou-o em uma sacola. Doaria quando passassem arrecadando coisas desse tipo. A empregada, porém, enganou-se com as sacolas e, ao fim do dia, colocou o amor no lixo. O caminhão levou.
Algum tempo depois, o homem notou horrorizado tudo que perdera. E notou, mais horrorizado ainda, que, mesmo com as perdas, continuava a existir exatamente como antes. Nada, absolutamente nada havia se alterado. Já sem nome, sem sombra e sem amor, ele continuava vivendo da mesma forma que sempre vivera: sem motivo.
Então que era a vida?
Nada.
Ou antes perdição. De tudo, inclusive de tempo.
Linné, você não escreve. Você desenha!
ResponderExcluirAdoro.
"Ou antes perdição." a crônica terminou ali :)
ResponderExcluirTambém acho. O resto foi só desabafo.
ExcluirHá tanto sempre sem motivo.
ResponderExcluirHá tanto motivo sem um sempre.
Vácuo. Apenas vácuo onde um dia existiu tanto.
Bonito, Linné. Bonito demais!!!!!
Si
Vini ja não sou mais seu aluno, sou seu fã. E amigo.
ResponderExcluirEsse nada de viver é besta e bonito demais.As suas palavras descrevem tão bem essa vagueza da vida, gosto muito.
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