Quando cheguei, a casa, o armário e o chão estavam vazios.
Nada escorria.
Nada dizia.
Nada queria.
As palavras fizeram as malas e partiram.
Mudez. Mudez de vogais e consoantes traduzíveis. Nenhum acento para salvar uma literatura inteira, a minha, ao menos.
Não havia sombra em meu corpo.
Procurei alguma explicação para tamanha calmaria diante desse cenário. Fechei os olhos. Estaria participando de um cinema mudo? Ninguém respondeu. Ninguém escreveu.
Há dias brancos que não deveriam existir.
Da minha boca as palavras foram dissecadas sem nenhum sinal de cicatriz pela traquéia. Palavras costuradas por fios cirúrgicos invisíveis.
Sim, há muitos dias invento uma vida, mesmo que muda.
Breve, rápida, veloz. Eloquentemente muda.
ResponderExcluirDeixando vários vazios nos olhos mudos dos teus leitores.
Adorei.
Habitam palavras na mudez... Aprendi isso qdo escrevi essa crônica. Obrigada pela leitura, Sil. Bjs, H.
ExcluirIncrível descrição desse sentimento mais ruim que a própria morte: a mudez de quem escreve.
ResponderExcluirNessas horas, consigo tatear uma hedionda solidão, Linné. Bjs, H.
ExcluirSó consigo pensar em uma frase "ausência sentida de todas as coisas" porque quando falta a palavra, no meu caso, falta-me também o ar. E sua descrição foi uma navalha afiada cortando enquanto há carne.
ResponderExcluirbacio
Falta ar. Falta-me, qdo isso acontece!!! Bjs, H.
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