segunda-feira, 25 de março de 2013

UMA fonte de ilusões, POR FAVOR - por Vinícius Linné

A fonte da juventude, que há tantos já seduziu, não causaria em mim mais do que um bocejo insolente. Não, não quero segundas chances para cometer os mesmos erros. Prefiro meus aprendizados, mesmo acompanhados dos precoces cabelos brancos. O que me encantaria, isso sim, seria uma fonte de ilusões.

Nessa eu me banharia inteiro, esfregando os olhos com sofreguidão. E meu olhar, então, ganharia o brilho da inocência. Eu poderia, assim, acreditar no futuro de quem não o tem. Eu poderia, finalmente, ser feliz com as mentiras que todos contam. Poderia crer em utopias, sonhos ilusórios e miragens. Tudo que a TV falasse, por exemplo, seria verdade para mim. Eu não precisaria checar, desconfiar, entrever intenções. Meu mundo seria simples e cru. As amizades seriam todas verdadeiras, eu estaria sempre levemente entorpecido de felicidade e acharia bom tudo que os outros fizessem. Eu participaria, também, do máximo de concursos de iPhones no Facebook, acreditando que todos são verdadeiros.

Ah, como eu queria essa fonte de alienação... Queria nela lavar meu espírito crítico, minha pulsão de contestar, meu esforço (vão) de descortinar circos e desmascarar palhaços. Depois de um banho nela, eu estaria todo recoberto de inocência e poderia aplaudir qualquer um que quisesse me ludibriar. Com que graça e força eu baixaria a cabeça, eu sorriria, eu concordaria com tudo. Tudo.

E eu não me preocuparia com mais nada. Eu não leria, não pensaria, não veria filmes complicados, nem ousaria mergulhos subjetivos. Eu beberia, sairia e tentaria transar com o maior número possível de seres, sejam humanos ou não. E minha vida seria completa daí.

 Eu também trabalharia, não escreveria de jeito nenhum – e o quando o fizesse, escreveria jeito com “G”. E não ligaria pra isso. Ah, e eu também diria coisas como “curta a vida porque a vida é curta” e “100 % vida loca”, além de cantar tudo que estivesse na moda, pouco me importando com o significado da letra (se houvesse letra).

E eu gostaria de todos os governos, especialmente se eles me dessem dinheiro. E votaria em políticos corruptos para logo depois esquecê-los. E se algo de ruim eles fizessem, eu suspiraria e proclamaria logo: “Ah, a vida é assim mesmo. Vamos lá beber que depois tem futebol”.

Eu acharia lindo, então, o Brasil sediar a copa. E em algum momento em pensaria que faria um sucesso tremendo sendo jogador de futebol. Eu não estudaria, logicamente, não faria nada que pudesse ameaçar minha falta de realidade. Ou talvez estudasse, afinal, a nulidade enche hoje as faculdades.

Se eu pudesse ter de volta as ilusões, a inocência, a alienação, meu Deus, que feliz eu seria. Feliz! Feliz! Feliz! Não feliz como você que leu esse texto até o fim e o compreendeu. Feliz como quem jamais nem clicaria em um link com um texto assim.

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