Esse ano ele prometeu para os amigos que teria mais tempo
para o chope, a conversa, o futebol. Mentira.
Andava triste, mas era só por dentro, ele comprou um carro
novo, foi promovido, saiu com a amiga do trabalho, a mais gostosa, falavam nos
corredores, assim como falavam da sua fama de galanteador.
Do seu apartamento, apreciava a vista bonita da
avenida cara de morar, para ele aquela beleza escorria na solidão de uma saúde
boa, na solidão dos bons vinhos, nunca amara.
Numa segunda- feira fria, de tempo seco, seus olhos
esqueceram os sinais e por pouco o carro vermelho, que buzinava incessantemente
atrás de seu importado, não o atingira. Foi nesse dia de dispersão que ele
chorou o medo de que a solidão de todos os objetos belos furassem seus olhos.
Quis pousar seu corpo numa teia que inflamasse mais fundo,
para que pudesse dar às cores da manhã um nome mulher, um nome de homem, o corpo
é a ponte, ele sabia.
Sentiu medo de estender as mãos, pois não era só o corpo
pronto em sim que ele oferecia, oferecia todas as estrelas que já contara, todo
luar, todo o seu pranto.
Descobriu ao acaso, uns dirão, que É milagre enviesado
em nervos.
Nada foi mais bonito e dolorido quanto o pranto
desse homem nascendo
O meu quase lhe foi gêmeo.
ResponderExcluirComo é difícil chorar, como é difícil sentir, como é fácil se deleitar com o que você escreve...
Sim, seu último texto me deixou pensando sobre essa coisa dolorida de chorar.
ResponderExcluirObrigada pelo olhar.Um xero.