terça-feira, 21 de maio de 2013

cOR - por Adilma Alencar.


Esse ano ele prometeu para os amigos que teria mais tempo para o chope, a conversa, o futebol. Mentira.
Andava triste, mas era só por dentro, ele comprou um carro novo, foi promovido, saiu com a amiga do trabalho, a mais gostosa, falavam nos corredores, assim como falavam da sua fama de galanteador.
Do seu apartamento, apreciava a vista bonita da avenida cara de morar, para ele aquela beleza escorria na solidão de uma saúde boa, na solidão dos bons vinhos, nunca amara.
Numa segunda- feira fria, de tempo seco, seus olhos esqueceram os sinais e por pouco o carro vermelho, que buzinava incessantemente atrás de seu importado, não o atingira. Foi nesse dia de dispersão que ele chorou o medo de que a solidão de todos os objetos belos furassem seus olhos.
Quis pousar seu corpo numa teia que inflamasse mais fundo, para que pudesse dar às cores da manhã um nome mulher, um nome de homem, o corpo é a ponte, ele sabia.
Sentiu medo de estender as mãos, pois não era só o corpo pronto em sim que ele oferecia, oferecia todas as estrelas que já contara, todo luar, todo o seu pranto.
Descobriu ao acaso, uns dirão, que É milagre enviesado em nervos.
Nada foi mais bonito e dolorido quanto o pranto desse homem nascendo

2 comentários:

  1. O meu quase lhe foi gêmeo.

    Como é difícil chorar, como é difícil sentir, como é fácil se deleitar com o que você escreve...

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  2. Sim, seu último texto me deixou pensando sobre essa coisa dolorida de chorar.
    Obrigada pelo olhar.Um xero.

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