terça-feira, 27 de agosto de 2013

mEU PESAR - por Adilma Secundo Alencar.

Seja agora. Eu já não posso sem você. Todos os dias eu engulo uma lua sentindo seus seios em minhas mãos e um buraco na memória faz vertigem e enjoo no meu estômago.  Eu não quero discutir política, Barthes, eu também sofro desse cansaço de um mundo estúpido, entupido de palavras sem pensamento. Eu quero o silêncio de água do teu sexo, tua raiva me rasgando a roupa. Sem você eu não sei chorar. Eu não fumo, não bebo. As flores estão chegando e setembro é o mês que te veste. Vem nua para nosso pequeno inferno de amar. Esses bares todos da cidade de São Paulo só esperam nosso encontro escandaloso. Não há traição, tampouco namoro, os filmes desse semestre são estúpidos e burgueses e meus livros velhos estão inflamados de poesia com teu nome, não demora não, é fácil enlouquecer sem amor. Eu ajeitei minha cama e corrigi minha sintaxe para não reprimir teus instintos, vem com esses olhos chorosos que me devoram antes de tua boca. Entre teu choro e minha raiva, meus dentes e tua língua, vem fazer verbo do que é substância, seja com essa linguagem obscura que nossas palavras não alcançam nem alimentam.
O meu armário guarda suas revistas e aquele álbum do Noel nunca mais tocou, os sachês de chá apodreceram esperando tua sede e eu guardei a forma de pudim.
Eu comprei xícaras com seu tom de vermelho e engravidei três vezes durante sua ausência, sem você sou menos gente. É desesperador o barulho do relógio sem o teu sorriso ao entardecer, sem o teu corpo nu junto ao fogão me fazendo café, seus reclames das notícias de jornal e sua impaciência com meus carinhos.
Me deixa  cuidar do teu corpo com a mesma devoção com que guardei teus traços nas minhas mãos e teu gosto na minha boca. Fica, é simples, vem para o espanto vadio do meu querer ajustado às curvas de meus desejos entre dedos e língua, sintagmas. Manoel de Barros me nina com suas formigas de corações líquidos, Bandeira me oferece café e putas bonitas para namorar, os bares se abrem para minhas mentiras moles, mas teus braços, teus braços onde estão? Todo colo nu, agora é calçada de concreto, e eu não durmo, eu anoiteço te querendo numa tara sem satisfação, numa fome cuspida em gestos cambaleantes engendrando mais rostos que sentimentos nos meus sábados.

O amor apodrece dentro de uma gaveta que é tua, uma gaveta fechada há cinco anos.

2 comentários:

  1. Já faz um tempo que, SEMPRE que te leio, no último ponto final, revela-se um silêncio pesado, pesado. Engulo uma saliva grossa e um sorriso cúmplice.
    Você anda escrevendo escandalosamente BEM, minha amiga. Parabéns!!!!

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  2. Obrigada, Si.Estou com saudade de você.
    Um xero.

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