terça-feira, 6 de agosto de 2013

rUA- por Adilma Alencar.

Vai e vem o dia inteiro, mês inteiro, ano inteiro.
O preço, o espaço, a marquise, o curso, a escolha, o credo, o medo, a mentira, o dinheiro, o bilhete.
O rasgo de vida explodindo na cidade de São Paulo.
Uma freira de roupas limpas segue no trem, sentido Capão.
No metrô, sentido Paraíso, Ana Paula ajeita a meia arrastão, com o prazer do próprio toque simula um riso no canto da boca, finge não sentir o olhar faminto do senhor  gordo e suado que desce na consolação.
Na Rua das Noivas, um policial mal pago e cansado alivia a tensão enquanto um homem geme de dor, bater e apanhar, bater. Ele bate.
Um mendigo sente o inchaço no olho esquerdo, perdeu um dente e um resto de dignidade. Seu Zé, alagoano de Arapiraca, vende pamonha e vez ou outra é roubado, um viciado lhe rouba o dia, vez ou outra um policial lhe tira o couro.
No centro velho da cidade pomposa, as respostas e as perguntas bailam, a tensão vibra e a dança é dantesca.
Enquanto isso uma mocinha dada aos discursos analisa a sintaxe dos textos machadianos.

Um abismo dança na cidade de São Paulo.

Um comentário:

  1. suas ruas se parecem com as estradas do meu coração.
    ler você é sempre um momento de muito suspiro pra mim, Adilma.
    Parabéns por NOTAR sempre os detalhes de tudo/do mundo.
    Beijos,
    Si

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