terça-feira, 20 de agosto de 2013

sACHÊ DE AÇÚCAR - por Adilma Secundo Alencar

Eu não soube mais falar dessas coisas depois que você partiu. O papel de carta colorido de sóis permanece virgem. Eu ainda desejo seu corpo como se seu perfume ainda estivesse aqui, mesmo depois de tanta água e sabão e ferro de passar.
Eu sei rever, sem esforço, todos os passos daquele dia: a chuva tempestiva, eu aos prantos naquela avenida verde oliva, o vermelho do meu tênis borrado de tanta água nos meus olhos. Foi nesse dia que eu percebi o estrago que você fez.
E depois, o sol, a cerveja gelada, o sexo, os dias azuis em camas arrumadas.
E depois, a dúvida, a saudade do meu nome na sua boca, do meu nome metaforizado em nuvem e vento.
E depois, a viagem, o encontro com Buda, a energia tântrica, os mistérios do sânscrito, o parto.
E depois, a cama posta, a espera pronta, seu nome em meus hiatos.
Na semana passada eu deixei minha boina na poltrona do cinema, voltei assim que percebi. Quando me aproximei da boina, vi um casal que fomos nós, um falava frases do sachê de açúcar para o outro e recebia de volta um punhado de promessas no mexer cósmico dos olhos encantados. E depois, chorei.

Um sachê de açúcar numa sexta qualquer, os vincos que seu sorriso faz aparecendo noutros rostos. A cidade está cheia de você, eu estou enchendo a cidade de sua sombra.

Um comentário:

  1. Suas palavras são o açúcar de muitos dos meus cafés. Gosto sempre. Gosto tanto. Gosto muito.
    Beijos,
    Huck

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