quinta-feira, 31 de outubro de 2013

aZUL - por Simone Huck

imagem retirada do site da Fundação Fritz Muller

Você abre seus olhos azuis pela manhã e não alcança um céu estável. Engole um pedaço de nuvem carregada com leite desnatado e não mata fome nenhuma.
Corre muito e não chega.
Sua saliva é uma dúvida ancorada nos pés da tempestade que se aproxima.
O dia é uma rotina nublada.
Você abre o guarda-chuva.

(...)

Chama o elevador e ninguém interessante sobe ou desce.
O mundo é uma caixa de metal vazia com diversos andares duvidosos.
Olha no espelho e ajeita a febre curta dos seus cabelos longos.
Você está envelhecendo secretamente.
Pega os óculos escuros.
Confere no celular a agenda do dia.
Entra no carro.
Para no farol.
Acelera na subida.
Estaciona.
Chega e nem percebe.
Tenta roer as unhas mas desiste.
Esquece.
Admite.
O mundo é uma tentativa falida arranhando seu otimismo.
Você fecha o guarda-chuva.

(...)


2 comentários:

  1. Olha só, isso é bem bonito de ler.
    As agendas anônimas e tristonhas.
    Bem bonito.

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  2. Agendas azuis, Silmara Franco. Tão cotidianas e eventualmente, coloridas.
    Obrigada pelos olhos castanhos no meu texto...rs rs.

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