Os supermercados estão inchados de gente com fome de amor. O preço das
ameixas sempre sobe nessa época. Hoje à noite muita gente vai se abraçar com
remorso de amor que nunca saiu dos olhos e por dentro não vai sentir fome, vai
sentir gosto de palavra azeda, de um sentimento coalhado. Escorrendo um medo de
abraçar de verdade, haverá muitas velas e laços e quase ninguém vai dar as
mãos. Panetones caros serão servidos e
numa praça da zona sul, o prefeito expulsou os viciados porque eles não
combinaram com o verde e o vermelho daquela árvore reluzente. Um menino no
interior de Sergipe está a essa hora da manhã trepado num umbuzeiro, porque é
tempo de umbu e siriguela, disso ele sabe, disso eu sabia. Mas há o homem de
roupa vermelha vendendo sonhos de bicicleta para quem não tem nem ambição, nem
tamanho para sentir ódio.
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