Tem gente fazendo pacto de amargura com a vida,
enquanto eu escolho uma poesia do Leminski para mostrar para você. Muita gente
nesse momento escreve artigos científicos, compra remédios digestivos, enquanto
eu separo alguns filmes do Almodóvar pensando se você vai gostar da minha cena preferida.
Muitas pessoas andam sozinha pela rua do jeito que eu gosto de andar, eu penso
na sua mão pequena que segura a minha. Eu gosto de escolher palavras simples e minhas
pra contar uma narrativa corriqueira e quase sempre você ri, porque o cotidiano
narrado com riso é humor na certa, Deus é irônico, diz um amigo meu. Há muitas
cores cobrindo as pessoas apressadas na avenida já vazia de fim de domingo, mas
eu só tinha um gosto azul na boca. Uma tarde pós-chuva descortinou nove anjos laranjas
que bailaram ébrios sobre seu gosto de cereja.Tentando dar nome ao que eu quero
vivo, afasto a palavra e prolongo o olhar
além do que é óbvio. Deslizo desejo e pele e amanheço menos sono e mais desejo.
Ampliaram avenidas, protestaram políticas públicas, anunciaram novas drogas,
enquanto eu abria os olhos devagar e só desejava que o dia se abrisse amarelo ou
cinza, frio ou quente, mas que se abrisse num sorriso parecido com o seu. Eu
não li notícias de jornal, não fui ao banco trocar a senha do cartão, não abri
meus e-mails importantes, eu fiquei o dia inteiro tentando escrever um texto azul,
mas outras cores vieram e eu fiquei com palavras demais, todas azuis, sem
suporte para tanto signo eu deixei seu nome escrito com giz azul dentro de um
sol laranja na minha parede.
E esqueci o texto, a tese, os tantos, eu inventei um
sol de raios azuis.
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