segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

cERTIDÃO DE NASCIMENTO - por Vinícius Linné

Que era preciso na vida um toque de ousadia ele já sabia. Não praticava, porém. Resguardava-se. Para quê? De quem?

Naquele dia, pensou mais e pensou diferente. Viveria.

Viveria baixo e em segredo, quase leve. Mas viveria. Nem que fosse para provar da sensação. E como o universo colabora com aquilo que pulsa, a oportunidade se fez.

Primeiro ele olhou, começou a calcular todos os riscos, avaliou a exposição que a vida é, já começava a calcular as consequências quando se advertiu: não era dia de pensar mais. Era dia de se viver.

Respirou. Foi.

. . .

Quando voltou, seu corpo inteiro tremia. Pernas, mãos, braços, pelos e coração. Tudo se eriçava a ponto dele pensar que não sobreviveria ao ato de viver.

Abriu um livro para desfaçar os turbilhões de dentro. Leu incontáveis vezes a mesma frase sem sentido. Desviou os olhos, tentou controlar os braços, respirou fundo e o cheiro que lhe invadiu era de lavanda e pinho.

Então era isso. Então sobrevivera. Então nada havia se rompido na normalidade absurda daquela tarde quente. Nada explodira. Nada se quebrara. Ninguém sequer podia suspeitar que ele havia vivido. Talvez vissem os membros trêmulos, o suor no rosto, o sorriso que mal e mal se disfarçava. Mas quem saberia? Quem poderia supor o que lhe passava por dentro? Quem se importaria? Quem pararia o tempo para condená-lo ou benfazê-lo?

Ninguém.

Naquele dia, ele descobriu que o que vivesse era só seu. E que podia acostumar-se com aquela sensação. A partir daquele dia, ele nasceu. Aos 28, ele nasceu.

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