terça-feira, 20 de maio de 2014

dESAGUOU - por Adilma Secundo Alencar.

Preparou um chá de canela e sentada no sofá cismou sobre os caminhos espinhosos que a levaram até ali, chorou que nem criança sem mãe. O copo de vidro, desses copos de boteco, virou mil pedrinhas transparentes. No instante do soluço e do corte no pé, ela sorriu uma alegria sem amparo e foi iluminada, o arriscado sempre fora seu amigo desde que saiu de seu canto de mundo, vasto e duro.

A dança do mundo obedece a chicotes, a angústia de saber a massa branca de nomes que segura arma tão letal, em salas limpas. Sob marquises enferrujadas, agonizam homens de sua mesma matéria, com pernas e braços apartados do óbvio conforto de ter onde ir e quem abraçar. Ela não quer orquestrar o ódio que já brilha sem nome em tantos meninos, ela queria mesmo, senhores, ela queria mesmo era humanizar, era amansar a violência nas raízes da linguagem.

Ela decidiu tomar um atalho, mesmo com um vidro espetado no peito do pé, porque os seus pés cresceram em terra seca, rachada de sol, uma terra sustentada durante o sempre pela palavra, pela promessa, pela fé nos olhos de Santa Luzia, oferecidos num pires, enfeitando a sala de sua mãe. Ela vai, porque ela é forte, é preciso muita força para se alimentar de nuvem. Deixem que ela vá, deixem.

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