quinta-feira, 1 de maio de 2014

sPOILERS - por Vinícius Linné

Todo leitor de livros acaba por se tornar, impreterivelmente, também um leitor de futuros. Para tal, não precisa utilizar-se de baralhos, linhas de mão, cristais, búzios, borras ou runas. Basta que se aprenda a ler pessoas. E sim, todo leitor de livros transforma-se em um leitor de pessoas.

Depois de páginas suficientes e de personagens surpreendentes, o leitor experimenta vivências e subjetividades diversas. A arte não é senão experimentação da vida. Já escreveu George R. R Martin: "Um leitor vive mil vidas antes de morrer, o homem que nunca lê vive apenas uma." De mil vidas vividas alguma lição se tira. Ou não?

Sim. Aprende-se a ver sinais, spoilers em marcas, expressões, falas e tons de voz. Aprende-se a analisar comportamentos, sutilezas, olhares, superficialidades, enfim, delicadas ondas que tremulam à superfície das águas e revelam nela os movimentos de dentro.

É por isso que às vezes me calo, macambúzio. É porque li. Li em alguém uma intenção, um sentimento, algo que quem não lê pessoas não foi alfabetizado para ver. Li um futuro que se aproxima, uma ação previsível que desencarretará em outra e outra, até chegar no que eu já antevi como o fim do conto.

Às vezes eu chego a falar. Cada vez menos, é bem verdade. No fundo, cansei de ser Cassandra. Cansei de ver e avisar sem que ninguém acredite: “Isso é besteira, é implicância, é bobagem, deixa assim, que mal há?” Há. E ele vem. Ele sempre vem, independente de quem não queira acreditar em mim ou nos spoilers.





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