segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

c.G.e - Por Vinícius Linné


É natal. E nos natais e anos novos eu costumo lembrar de você. Lembro de quando éramos só adolescentes e bobos. E lembro do meu moletom azul. E lembro do soco que dei no seu braço.

Dos e-mails, das farpas afiadas, da minha incompreensão, do meu descaso e descompasso, eu lembro. Lembro de alguém dizendo: “tem certeza que você não entende?” Eu tinha. Eu tinha as certezas todas. Eu não entendia porque era só para mim que eu olhava.

Os meus sentimentos, as minhas amizades, os meus gostares, os meus pesares. Eu não via o que vejo hoje. Não via os seus natais em um apartamento solitário. Não via a falta de pais, a falta de paz, a janela escura pela qual entravam os gritos felizes de algum bêbado qualquer. Não via que a sua solidão era maior do que a minha. Não via a falta que eu mesmo fazia.

Eu não via o vazio dos enfeites de natal na sua porta. Eu não via você sem receber qualquer presente. Eu não via você me esperando entrar por ali com uma lembrança qualquer. Eu não via você chorar.

No ano novo, eu não via você sem beber champanhe. Não via você segurando firme um travesseiro contra a cabeça para não escutar o barulho dos fogos. Eu estava ofuscado por eles. Eu não via o escuro do seu quarto, a falta de vontade, a saudade do tempo em que eu podia ainda lhe dar socos no braço.

Hoje eu vejo tudo isso.

Mas só porque hoje eu não vejo você.

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