Ela anda pelos corredores, elevadores, escadas rolantes,
lojas.
Comprou um relógio caro para o namorado, avaliou o
preço, avaliou o valor e achou justo deixar o relógio como último presente.
Um ano de namoro. Ela pensava, o olhar distante não
disfarçava o embaraço que sentia dentro.
Ela entrou numa lanchonete ainda dentro do shopping,
pediu um suco de melão e torradas e ficou por ali durante horas, pensando como
começaria o diálogo. O que diria? Não havia uma razão, era uma decisão vã,
vazia.
Num repente que ela nunca saberá precisar, um gosto
rançoso e amargo lhe invadiu a boca, um solo de violoncelo lhe ressoou na
espinha e ela perdeu o prumo. Foi um pesar que lhe caiu nos ombros, mas se envergonhou
por não saber dizê-lo. Agora, sozinha na lanchonete, um ranço de raiva e de
orgulho lhe irritava os cílios, alguma coisa querendo virar água.
Era mulher sã, era mulher livre, pensava hesitante
entre sair e pedir um café.
Pediu um café, tomou um gole quente e amargo, secou os
lábios, mexeu na bolsa; batom, rímel e espelho, retocou a maquiagem e saiu.
Não deu o último presente ao seu namorado, não deu a
última ligação, não disse adeus.
Sumiu, linda, insanamente linda. Uma saudade remota
vai arranhar a sua alegria de rosa, alegria de louco.
Seu riso será sempre bruto e doce como deve ser o riso
de uma mulher livre que ama.
Ela não soube ser namorada.
Não soube.
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