segunda-feira, 9 de setembro de 2013

a ESPERA DE BERENICE - por Vinícius Linné

'Wainting' by Marta Syrko


O calor invade o quarto e aumenta a fúria até sua última grandeza. Não, ele não vem. Ele tem muito mundo a devorar para se perder no quarto quente de Berenice. Ele não vem, como não veio das outras vezes. Mas essa é a última, jura Berenice, a última.

Quantas vezes ela fizera o mesmo ritual, quantas vezes as velas queimaram invernos e verões, só esperando que ele viesse? E ele veio? Não. Ele tem outros interesses, outros amigos que mentem o quanto ele é bom, outras vadias que o fotografam até o último aplauso fingido. Ele não vem e o vinho, o vinho é seco.

Ele deve estar em outra festa, em outra pose, em outra garrafa de cerveja ruim. Ele deve estar iluminado pelas luzes que piscam e piscam e piscam, sempre na mesma intensidade.

Intensidade, isso era tudo que Berenice podia lhe oferecer em troca.

Sim, em troca das festas, das farsas e do mundo, ela lhe oferecia sua própria intensidade, sua imensidão por trás dos olhos marrons. Ele achou pouca a troca. Ainda se os olhos fossem azuis... Não eram. Ele preferia o enjoo do outro dia pela manhã, do que os mistérios de Berenice estendidos sobre o cobertor. Ele preferia um amasso mal dado num banheiro (filmado por terceiros), do que um poema cafona de amor no travesseiro.

Ele era desses. 

E Berenice, Berenice era dessas que esperam, mesmo sem qualquer esperança, serem amadas algum dia.

Um comentário:

  1. Nem todos falam a mesma PALAVRA e comungam a mesma TROCA. Coração, folha de rabiscos...

    Quem será mais solitário? Ele ou Berenice? Ao menos, na solidão eles estão iguais.

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