Há jornais, meu bem, cheios de notícias que não quero
ler. Letras garrafais e interjeições
suicidas antecipando meu enjoo de todo o excesso, dentro de mim um tumulto
grita, quantos silêncios são necessários nas nossas pausas diárias?
Solar, domingo solar pingando gotas de laranja no
vidro de meu copo de café, um copinho vagabundo desses que veem com molho de
tomate, meu café quente, primeiro gole dessa manhã escandalosa de primeiro de
setembro, volto à cama e vejo sua beleza tão solar como esse domingo que deus
fez. Seios nus e plácidos, mãos mansas, unidas segurando um rosto amassado de
quem não quer acordar. Nossa casa com poucos móveis e muita festa. Meu
alumbramento perdoado diante de sua poesia em carne e água, em flor e mato, sua
poesia enervou meu sangue e o céu pintou nuvens para dar amor também aos
outros. Pego seu celular que grita o desespero dos relógios e afasto de nosso
quarto a ameaça do mundo.
Cílios, pés, pescoço, cabelos, nuca, todo canto onde
me encontro é pedaço seu, colo, lágrima e anúncios de felicidade.
O mundo está em guerra e meu bem querer ameaça o tédio
e a preguiça, um domingo pode forjar algemas nos nossos desejos. Fico com o
silêncio que o cheiro dos seus cabelos alimenta, quando a tarde horizontal e
alaranjada me traduz uma inflamação no peito, é seus olhos tristes meu refúgio,
minhas mãos, meu delírio e porto. Sou pequeno e o medo quer tomar minha
preguiça por desespero, nessa peleja de sertão e cimento é na cama o palco de
meu choro, é quando você cresce e um metro e setenta é o tamanho de minha
dúvida de ficar ou partir.
Minha semana vai se abrir em notícias de azaleias
contentes, gerânios melancólicos e petúnias espevitadas, porque você veio. Seu
organdi lilás é menos um cachecol do que um curativo para meus olhos cansados
das revistas.
As crianças nascem cobertas de sangue, já anunciam
nossa sina de choro e milagre, vamos milagrar,
meu bem, nosso medo também é nascimento. É um milagre que vencendo o nojo das
notícias, a dor dos indigentes, a angústia dos doentes à espera do fim, ainda
aconteçam encontros grandiosos como esses que explodem em saliva e sexo e
deslumbre desses nossos olhos se misturando aos raios dessa manhã tão
milagrosa como recém- nascidos estranhando a linguagem já dita, bem dito seja
nosso estranhamento.
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