Anunciam a vida boa, a possibilidade de felicidade
pode ser dividida, é possível fazer o mestrado, o doutorado em menos tempo,
viajar, os amores são anunciados de dez em dez minutos numa tela fria e a
mulher linda, carinha de tela de tevê, agora conversa e marca, não, anuncia mil
festas numa tela azul, anuncia inclusive sua solidão acompanhada de dez curtidas
e 2 comentários. O homem chora, a morte chegou numa carruagem suicida e a moça
da televisão relata o acontecido com a mesma expressão da moça que anuncia a
venda de geladeiras a preços reduzidos. O cuidado com o corpo e a adoção de uma
alimentação saudável é a grande receita para vencer o tédio, e a vida só
precisa de você para completar o quadro da alegria do comercial do dinheiro, lésbica,
ateia, amarela, negra, branca, banguela, maneta, caolha pague e leve, tudo
custa o seu suor cotado ao dólar do dia e o PF no centro velho sai por R$8,50.
Comam todos da mesma angústia dos trens e dias lotados, a oferecer os sete dias
para uma janta mais cara e uma transa rapidinha, um cinema sem pensar e algumas
frases prontas após o café com pão de queijo e voltamos para o quarto de dormir..
Bombas de efeito moral tem efeito nos olhinhos de Ana
que só queria o Smurf do Mc Lanche Feliz, mas seu pai, Brás, dizia da luta
democrática e do papel do homem na mudança, segunda vez que mudaram de lar
naquele semestre, um estudante perdeu o olho que em tempo real foi filmado, fotografado
e curtiram e compartilharam, uma luta de cliques e teclados, telas de indignações. E sobre a pele da palavra só há cicatriz, só há furo no olho, fuzil
no peito e nó cego.
Meu nó na
garganta já não amarra nenhuma certeza.
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