segunda-feira, 16 de setembro de 2013

mINHA ESCRITA - por Vinícius Linné

Minha escrita agora é a evolução do gozo, a transcendência. Eu fujo, fujo léguas dessa escrita tua, masturbatória. Dessa escrita que não dá prazer a nenhum outro, que coage, caçoa e coíbe a quem dela se aproxima. Minha escrita é porta aberta, precisa ser, para que eu abra portas no outro também.

Não, eu não escrevo para me mostrar. Eu não escrevo de besta. Escrevo porque tenho em mim a vontade de fazer alguém pulsar. Não, não meço métricas, não rebusco o estilo, não aprimoro vocábulos com a ajuda dos dicionários. Escrevo muito cru e muito simples. Muito nu e muito eu.

Gosto de enriquecer a ideia, não a letra preta. Gosto de tocar outra alma, não só a caneta. Mas te entendo também. E por entender respeito. Respeito o teu prazer, a tua satisfação em humilhar, em se autoexaltar. Entendo e deixo. Entenda-me, então, também. Deixe-me, então, também.

Goze tuas muitas folhas amassadas, tuas intermitências desperdiçadas, tua cultura erudita e vã, vã porque te torna maior e não melhor. Mas deixe que eu goze também, minhas folhas perfumadas, minhas mentiras contadas, minha cultura analítica e de divã, de divã porque quer me tornar melhor do que eu, não maior do que tu.

Eu deixo teus leitores confusos seguirem sem efeito, abandonando textos, reconhecendo estilos, cópias, parágrafos inteiros de outros livros melhores. Deixe os meus reconhecerem músicas, sentimentos, poesias inteiras que eles mesmos teriam escrito, se poetas fossem.

Eu não quero conquistar o que por ti foi feito, eu quero tocar o teu próprio peito e dizer: “Está sentindo isso aqui? É coração e eu tenho também. Quer ver?” Eu não quero leitura de academia, análise, elogio vazio ao estilo ou modo. Eu quero literatura de todo dia, devorada como pão, saciando quem precisa dela, quem vem, lê e parte, sem nada dizer, emudecido, devorado pelo texto também.

Um comentário:

  1. Eta,Linné...li num fôlego só, perdendo o fôlego.
    Gosto tanto dessas tuas letras.Um xero.

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