Minhas mãos trêmulas, não pelo cansaço que os anos trazem, mas pelo vão que você deixou, tateiam as possibilidades tristes de algum corpo. Sob o sol de meio dia, de um dia de verão, na garoa das 18:00h, de um inverno paulista, sua lembrança é a única coisa bela.
A língua - cansada dos imperativos que incham e mofam nas mesas de restaurantes, com bifes frios e pessoas secas - cala.
O olhar tenta ainda um afago voluntário de ter doçura, mas o corpo, sobretudo o corpo, meu amor, esse morre num tango, na sua saia, sua isca, seu nunca.
Recolho minhas vergonhas: os meus sapatos, minha lingerie, meu casaco, minha angústia. Entre a vontade e a antecipação do abismo: a oxigenação, o fermento, a comida, a saliva, o sal. As mãos, sujas de mentir. Os olhos, cegos de não te ver.
Aos poucos, meu amor, devagar se faz o assombro de te ter entre as pernas de um corpo alheio, em perfume e em sangue, aos poucos, meu amor. O espaço, de deus, entre sua calcinha e seu sutiã, acalma os demônios do meu corpo. Calada e febril, eu morreria entre suas coxas, para ver Deus num plano maior, ou ainda seu rosto, pálido e cínico, me saudando na chegada ao inferno.
Venha logo, eu estou cansada.
Quero sua mão, com seus anéis de pedras pretas. Quero seu silêncio, quero seu nome para a filha que vou ter. Seu nome viverá nove meses no meu ventre, e visitará meu túmulo.
O nome, a substância, o primeiro café, o peso exato do seu corpo de manhã, seu pesadelo em minhas mãos, quero seus espinhos antes de flor e seu cansaço em mim. As margaridas cresceram. Passe no mercado compre canela e pêssegos, hoje eu vou fazer sua sobremesa preferida.
Eu escrevi um conto com seu nome, está no teto do nosso quarto, de tinta vermelha. Quando você voltar eu terei tanta coisa pra dizer, comprei uma saia amarela para que use com aqueles chinelos hippies que você comprou na feirinha da república, eu doei alguns móveis: a mesa, porque lembrava você tomando chá, o sofá, porque lembrava a gente namorando, os quadros, os relógios, porque só você se importava com o tempo.
Já é tempo de você voltar. Eu voltei, eu decidi voltar, lá fora está ruim, aqui dentro é mais bonito.
Dilma e suas crônicas suadas por saudades e memórias... Gosto tanto, tanto!!!
ResponderExcluirLindo! Parabéns.