Ela não me via, eu já não queria enlace. Aos poucos o
silêncio dizia de tédio e cansaço. Eu comprei margaridas brancas, um livro de
receitas, arrumei a casa, tudo cheirava a alecrim. No meu quarto, entre
relatórios e poemas, eu tentava amolecer umas palavras-nós, para dizer, para
cortar a pulsação já fraca.
O filme acabara. Ela afundou de cansaço, na poltrona
roxa. Eu a acordei, com olhos tristes, de quem tem mais ternura que amor.
Houve um beijo longo e cúmplice, sentimos que a distância doía. Os olhos dela
estavam mais escuros que de costume, eu estava calma como nunca. Choramos de
saudade dos piqueniques, das mãos dadas, das datas, dos ditos. O jantar não foi
servido. Houve uma chuva histérica, uma xícara quebrada, um copo d’água.
Sorrimos um sorriso compassado com soluços, minha lágrima tinha o gosto do seu
batom ainda úmido na minha boca. Nossa solidão não cabia na mesma cama. Ela
também tinha dor e saudade. Ficamos tristes, ela dormiu ao meu lado, eu acordei
pra sempre. Na primeira manhã de saudade, ela tomou banho, saiu de toalha com
um cheiro que só os anjos devem ter, pegou meu corretivo emprestado, tomou meu
café, falou da gente, e de como seríamos mais felizes depois da noite passada.
Sorrimos à liberdade, guardamos as lembranças sãs e acreditamos.
Lindo, como sempre o amor tem um recomeço, uma história que não se joga fora nas dificuldades. Novas chances de não de novos acertos, mas de novas tentativas. Adorei.
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