Voltavam da escola. Iam os dois na quinta série. Quando passaram em uma certa casa, ela viu a flor. E a quis. Ele era apaixonado por ela, mas ela não sabia e então disse assim:
— Pega aquela flor pra mim?
— Mas há outras aqui, no canteiro...
— Não. Eu quero aquela.
Era a flor por trás de um muro alto. Altíssimo. E de repente ele não era mais um menino. Ele agora era príncipe caçador de encantos. Pegaria a flor mais rara para a princesa mais bela. Ela na certa secaria a flor dentro dos livros, como ele já vira a própria mãe fazer.
Um dia, os netos de ambos perguntariam sobre a flor. E então ela contaria de como foram felizes, diria que eles eram crianças ainda quando ele colheu aquela flor e ganhou o primeiro beijo.
Sorte era o esforço que fazia, porque ele ficou vermelho ao pensar no beijo. A flor saiu com custo. O muro era mesmo alto e ele a arrancou com raiz e terra e tudo. Mal ele tinha tirado a flor, apareceu a dona da casa a gritar, como se ao invés de uma papoula, ele houvesse lhe roubado as pupilas.
Ele só conseguiu com esforço pular de volta para a rua. Correram ele e a menina até a outra esquina. Lá ele estendeu-lhe a flor quase fechando os olhos. Quando pegou a flor, ela rompeu o caule, esfregando os torrões de terra na cara dele, carinhosa. Riram os dois até não poder, naquela mistura de terra e braços e corpos que se abatiam em luta.
Foram adiante, cansados e só sorrisos. Na terceira esquina se separaram, cada um para sua casa. Ela de flor em punho, ele vazio de beijo, mas orgulhoso pelo feito. Ela agora tinha a flor. E a guardaria para sempre.
Mais dois passos, porém, e ele a viu despetalar a flor. A cada passinho ela soltava mais outras pétalas roxas. Ia assim marcando o caminho, em um bem-me-quer que não pertenceria nunca a ele.
Gosto de uma coisa mansa de sua letras, mas como doem.Bonito texto.
ResponderExcluirObrigado, Dilma.
ExcluirDizer que minhas letras são mansas me faz sorrir embevecido. É só isso que quero delas.
Pena que dói, como você disse. Mas é só a arte transcrevendo a vida.
Parece que a vida, em alguns momentos, é assim... vai jorrando pelo chão, incerta sempre...
ResponderExcluirVezes, dói.
É bem assim mesmo. É da vida que isso vem.
ResponderExcluir:(