imagem retirada do site da Fundação Fritz Muller
Você abre seus olhos azuis pela manhã e não
alcança um céu estável. Engole um pedaço de nuvem carregada com
leite desnatado e não mata fome nenhuma.
Corre muito e não chega.
Sua saliva é uma dúvida ancorada nos pés da
tempestade que se aproxima.
O dia é uma rotina nublada.
Você abre o guarda-chuva.
(...)
Chama o elevador e ninguém interessante
sobe ou desce.
O mundo é uma caixa de metal vazia com diversos
andares duvidosos.
Olha no espelho e ajeita a febre curta dos seus
cabelos longos.
Você está envelhecendo secretamente.
Pega os óculos escuros.
Confere no celular a agenda do dia.
Entra no carro.
Para no farol.
Acelera na subida.
Estaciona.
Chega e nem percebe.
Tenta roer as unhas mas desiste.
Esquece.
Admite.
O mundo é uma tentativa falida arranhando seu
otimismo.
Você fecha o guarda-chuva.
(...)
(...)