terça-feira, 15 de outubro de 2013

dO FIM - por Adilma Secundo Alencar.

A chuva dessa madrugada não me acalma como antes, o café esfriou, eu não renovei o empréstimo do livro, eu não fiz janta,trabalhei mal, comi mal.
Faz quase um mês que já não encontro seu corpo em abraço cúmplice, nos separamos, quando?
A ideia da separação me veio após um dia cansado e interminável, desses em que olhamos os ponteiros do relógio e eles riem ironicamente de nossa pressa, eu não senti vontade de ouvir sua voz, me peguei egoísta e duro por querer a solidão de minha casa e voltei mais cedo que de costume só para dissipar minha culpa.
Nossa rotina tomou a noite e eu logo me esqueci daquele enjoo.
Mas ela voltou, é uma ideia insistente, e repousou com olhos de coruja no criado-mudo.
Numa sexta de calor e brisa, você fez pudim de pão, minha sobremesa preferida, nos amamos serenos, tristes e silenciosos.
Levantei cedo e olhei seu corpo coberto, seu sono pesado, seu nariz fino, seu cabelo curto, sua orelha exibindo brinco de estrela.
Não soube dizer quando ela caminhou do criado-mudo até minha gravata, sei que depois disso cada nó na manhã de minha rotina de homem é um conto de angústia e pergunta talvez a mesma ideia também percorra seus esmaltes, pois já não noto as mudanças frequentes de cores que outrora suas unhas exibiam. Talvez percorra também suas saias longas.
Agora, os anjos de luz povoam meu peito, mas minha língua não tem palavra para dizer fim, seus olhos de maré cheia fazem uma tempestade. Já me perturba a futura ausência de suas mãos macias me fazendo dengos na nuca, e esse cheiro de sexta- feira que o coentro cortado na tábua colorida, comprada nessas feiras que você frequenta, me avisa.  
Se você souber,me acalma essa vontade de partir e mente,mente que ainda me quer bem.
E talvez amanhã sejamos novamente felizes.

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