segunda-feira, 21 de outubro de 2013

oS PLATÔNICOS - por Vinícius Linné

Os dias foram passando, o beijo que deixei delicado no teu pescoço foi se apagando. O calor do meu corpo foi esfriando no teu. Esvaneceu-se meu cheiro de madeira e âmbar, esvaziou o sentido, o não dito, o não permitido entre nós.

De repente, à distância, meus olhos ficaram opacos pros teus. Meu brilho foi ficando cada dia mais fosco. Minha voz mais distante. Meus sonhos cada vez mais parecidos com utopias pintadas.

De repente, então, tu decides que não valia a pena mesmo. Que tu não merecias alguém como eu. Melhor: que nós não nos merecíamos. A dor seria demais. O trabalho seria dobrado. O sacrifício seria imenso.

Então deixa. Deixa assim. Segues tu. Sigo eu. Distantes. Sem nunca sabermos do sabor um do outro. Seguimos apartados, com as lembranças do que não foi. Do que poderiam ter sido nossas vidas. 

Se tu assim decidiste, eu acato. Eu acolho tua escolha. Eu recolho meus restos. Eu espano o espaço, dissipo as lembranças, esfrego minha pele até saírem dela as lascas da tua. Eu esvazio meu peito, mesmo sabendo que tu ficarás nele, feito sujeira, impregnada.

E no fundo é só isso. Só. Eu não te queria no canto dos não esquecimentos. Eu não te queria na minha estante de arrependimentos. Eu estava disposto a tirar o coração e te dar, para que ele fosse coisa tua. Assim eu teria paz, de alma toda em ti, toda tua.

E então tu me disseste que não o queria. Que eu fique com meu coração gasto. O coração que eu preparei todo tempo pra te entregar, que eu cultivei e enfeitei só para que um dia fossemos teus. E agora, Deus, que faço desse meu coração sem dono? Que faço do vazio da tua ida sem mim. Da dor de não ter tido uma chance de sequer ser infeliz contigo. O que faço?

Nada. Não faço nada. 

Os melhores amores são mesmo os platônicos.

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