E eu, que nem gosto dele, sinto-lhe desmedida falta.
Não gosto de como ele me obriga a desnudar o corpo e os segredos, não gosto de suas armadilhas a prender-me as pernas, acender-me os medos, não gosto de seu gosto salgado e ardido, não gosto de seu cheiro, de suas remanescências, de seu marasmo de macho. Não gosto.
Ainda assim, sinto que meus sonhos estão enrodilhados em suas ondas. Sinto que nas suas profundezas, aquelas de azul muito escuro, está escondido qualquer tesouro que é meu. Sinto que ele me chama, sussurra meu nome em suas indas e vindas, as mãos sempre estendidas para me recolher, as mãos que voltam sempre vazias de mim.
E eu o ouço, inesperadamente, em pistas, em sinais, em carmas e marcas. Em livros, em músicas, em potes de sal que cheiro, provo, misturo com água e passo na pele, dando-lhe uma prova de mim. Uma prova que promete mais, sempre promete. Mais de mim nele, mais dele em mim, mas que está longe de se concretizar. Porque, embora eu ouça e sinta seu chamado, eu não gosto dele. Eu não estou preparado, ainda, para gostar.
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