segunda-feira, 28 de outubro de 2013

o NÃO DE MAYARA - por Vinícius Linné


Eu queria transformar teu não em poesia, fazer escorrer na pele a rima exata que não me deixaria cair de braços abertos. Eu queria. E queria sem entender. Além de tudo eu não entendo. Porque, sinceramente, eu não te queria. Eu já tramava os segredos, eu já tingia as máscaras, eu já preparava a vergonha de seres minha. Eu não te queria e, de repente, teu não me abala.

Logo depois de tantos sins ouvidos essa semana ainda, veio teu não. E ele superou os sins. Sabe por quê? Porque o teu não foi a uma possibilidade, enquanto os sins só confirmavam o que eu já tinha. O que eu tenho me cansa. As possibilidades é que me seduzem, as noites insones a imaginar o depois, a expectativa desenhada, os planos macerados, os ideais pintados em um rosto falso, em um nome fingido que tatuarias no peito. E, então, teu não.

Teu não à minha história imagina, prendendo-a para sempre. Teu não desdenhando dos meus não-ditos. Teu não a abalar minhas crenças, a desfazer minhas capacidades, a tingir de vergonha minha voz quando repito, baixinho, que não, que não me quiseste. Nem agora nem nunca.

E eu, tolo, ainda pergunto o porquê. Ainda me desfaço os restos de honra a querer saber. E então, não por quê? Do outro lado só o silêncio. Uma palavra de três letras, foi tudo que me deste. A palavra errada: não. Uma palavra que não preenche a poesia, que não desliza na pele (a não ser como lágrima), uma palavra que não sustenta, que não publica livros, que não realiza sonhos, que não diz. 

Não.

Uma palavra que não diz e que não me deixará, jamais, dizer: te amei muito mais depois desse não do que qualquer vez antes dele.

2 comentários:

  1. Algumas negações constroem eternidades e retornos.
    Lindo.

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  2. Me pergunto: caberia o "não de Mayara" dentro de um misero e impiedoso sim?
    Lindo texto, Vinicius. ( não posso te chamar de Anjo Maldito aqui, rs).

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