segunda-feira, 6 de agosto de 2012

dE eLIS - por Vinícius Linné


Os corações viram gelo e, depois, não há nada que os degele
Se a neve, cobrindo a pele, vai esfriando por dentro o ser
Não há mais forma de se aquecer, não há mais tempo de se esquentar
Não há mais nada pra se fazer, senão chorar sob o cobertor

Eu já esquecera da febre que é crônica. Já me acostumara com as compressas de gelo que me botavam e me aplacavam, então, de ser. O gelo já passara epiderme, derme,  e congelara mesmo os vermes - do peito. Era eu, apático, mudo, deserto de noite, frio e imenso e insondável e impovoado. Pávido, enfim.

E então aconteceu.

Aconteceu de eu esperar como quem espera, de cravo vermelho na lapela. Aconteceu de alguém chegar com brasas nos bolsos e me colocá-las nos pulsos. Aconteceu de eu ver o sangue derreter, descoagular, correr. Tudo para dali a instantes ferver, borbulhar, incendiar de novo na febre, que é crônica.

E bendita seja a febre crônica. Porque preciso dela. Porque a cura do que é crônico está na morte. E de morrer eu entendo - em vida - e então não quero. Bendita seja minha pele que evapora a chuva. Bendito seja o eu deserto - de dia. Escaldante, imenso, convidativo em minhas miragens de loucura. Ávido, enfim.

Os corações pegam fogo e depois não há nada que os apague
se a combustão os persegue, as labaredas e as brasas são
O alimento, o veneno e o pão, o vinho seco, a recordação
Dos tempos idos de comunhão, sonhos vividos de conviver

3 comentários:

  1. De Elis, de Vinicius e um pouco de mim...
    E assim vamos nos mantendo vivos, entre fogo e gelo.
    (por hora)...
    Bonito. Bonito demais.

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  2. Valeu, Simone. :)
    Qualquer música me derrete. E Elis que me perdoe a inversão de ordem.

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  3. Lindo,lindo. Bendita seja a febre.

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