Minha força é fraca. E quando dizem “Empurre! Empurre!”, eu faço de conta que não ouço nada. Eu espero, espero até que o médico diga: “tragam o fórceps”. Só então eu consigo relaxar, me alargar e me entregar de alguma forma. Porque daí não é minha a responsabilidade. Não sou eu o culpado dos partos. Não me condenem, por favor.
Como é ser um pardiouro de loucos? Alguém mais sabe? Só quem experimentou sabe da dor de fazê-los nascer. Não a física. A moral. Quando eles se põem a chorar por terem nascido. Quando eles sofrem e se arranham e desejam estar mortos. Quando eles se matam. Daí é que dói em quem os colocou aqui.
Por isso eu evito os partos, eu tranco o corpo, eu adio esperando qualquer cordão enrolado no pescoço, qualquer tombo fatal no último instante, qualquer agulha enferrujada me perfurando por dentro. Nada. Eles implodem necessários. Eles vêm a furo, eles abrem caminho, eles fazem força para nascer.
E não sei. Não sei como impedir, não sei como parar, não sei como estancar o jorro de gente que sai de dentro de mim. Meninas que voejam, anjos com maldições, Ângelos com erupções, louras na camisa de força, Clarissas esquecidas no escuro e até um Vinícius – até um Vinícius insuspeito, emparedado no muro.
Eu evito, o quanto posso eu evito. Mas sou fraco. E há o fórceps, não esqueçam. No fim, eu os acabo escrevendo. Eu os faço nascer. Eu os dou à luz do mundo. E é bem só para que sofram mesmo. Eu queria parar. Juro a eles que queria parar. Mas se escrevendo é que sobrevivo – e os faço viver – como parar? Digam-me: como parar sem morrer?
Não pare.
ResponderExcluirEu agradeço, porque você continua.
1) http://www.youtube.com/watch?v=ImowkpTfAw4&list=PLX18FogUDoGr_CUNHSsO7sASd-1-NajY7
ResponderExcluir2) Sofrimento-Natureza-Origem-Cessação-Caminho.
Continue.
tinamaria.